Na continuação da entrevista com o técnico bicolor, ele fala sobre a relação com os jogadores, ídolos como Sandro e Zé Augusto e sobre o Círio de Nazaré. Confira.
Você substituiu um técnico também de renome e que não conseguiu fazer o time jogar como você conseguiu em bem menos tempo. Os jogadores são unânimes em dizer que você deu moral ao elenco, que os cobra mas também os protege. Essa foi a solução encontrada para fazer o time render?
O grupo precisava de carinho. Você tem que ser como um pai às vezes, então os tratei como a meus filhos. Dar um puxão de orelha quando é preciso, mas dar carinho quando é merecido. Se der só carinho, é ruim, assim como dar só porrada também é. Tem que haver um equilíbrio nessa relação e a partir do momento em que o grupo sentiu a confiança da comissão técnica as coisas começaram a andar. Quando o torcedor viu como estava sendo feito o trabalho aqui também passou a ficar ao nosso lado, o que tem sido muito importante. Passaram a respeitar mais os jogadores que estavam sendo pressionados.
Técnicos preferem falar sobre grupo e não de jogadores individualmente, mas o elenco bicolor tem duas pessoas que representam muito ao clube, ambos provavelmente no último ano das carreiras deles. Um é o Sandro. O que você pode falar dele?
O Sandro não tem mais a vitalidade de antes, sofre com uma fibrose no músculo e com 38 anos leva mais tempo para se recuperar, o que é normal. Já conversamos e ele deixou claro que no final do ano deve parar, que não dá mais. É um cara que teve uma passagem brilhante, mas infelizmente todo mundo tem que parar. Quando precisei dele deu conta do recado com a qualidade técnica que tem. Ele nem precisa correr porque sabe dos atalhos e faz a bola rolar. Agora, "rei morto, rei posto". Quando terminar a carreira ele merece uma homenagem e a vida segue. Vai começar outra vida e ele sabe muito bem disso.
E sobre o Zé Augusto?
O Zé é um cara de decisão e confio plenamente nele. É um cara muito forte, que se dedica e trabalha muito, mas tá chegando a hora dele e isso não tem jeito. Ele quer sempre jogar e não desiste nunca porque é um guerreiro, o que é digno de admiração. Sei que quando entrar ele vai dar conta do recado. É o tipo de pessoa com quem gosto de trabalhar.
Pelas suas falas dá para notar que você tem uma ligação muito forte com tua família. Como é encarar essa carreira em que tem que ficar tanto tempo longe, ainda mais agora que seu filho começa a trilhar o mesmo caminho de técnico de futebol?
Falei para meu filho que ele trabalharia comigo por cinco anos. Esse ano, para minha surpresa, disse que não mais trabalharia comigo. Lembrou desse período de cinco anos e foi para o Boa Camisa-SP, clube do Roque Júnior. Depois apareceu uma oportunidade em um time da terceira divisão de Goiás e pediu minha opinião. Perguntei se ele tinha certeza se queria seguir a carreira de técnico. Como é o que ele quer, vai correr atrás desse sonho. Vai ser o maior laboratório da vida dele, onde vai aprender a ser técnico, roupeiro, médico, enfermeiro, gerente de futebol, tudo junto. Lá vai ser uma base sólida. Quanto à família, quando se escolhe essa carreira sabe que vai ser duro. Nem falo em sacrifício porque foi o que escolhi e a família sabe disso. A gente tem contato sempre, mas nem sempre está próximo. Não é nada fácil. Minha esposa deve vir para cá agora porque não quer ficar mais longe, mas em muitas ocasiões sou em quem fica desempregado. Por causa disso sou sócio numa rede de farmácias até para me prevenir. Não é fácil, mas faço porque gosto. Dinheiro é uma consequência, mas sou apaixonado pelo que faço. Durmo e acordo pensando em futebol. Aliás, às vezes nem consigo dormir de tanto que penso em como armar o time, em como anular o adversário. Vivo futebol 24 horas e sem essa adrenalina ficaria baqueado.
Hoje Belém comemora o Círio de Nazaré e sempre destaca que tens uma religiosidade muito forte. Como você vê esse momento do povo paraense?
Uma coisa que me impressiona muito aqui em Belém é a fé das pessoas. A fé em Nossa Senhora de Nazaré é impressionante. Já fui em muitas romarias de Nossa Senhora de Caravaggio no sul e sei como é, mas o povo paraense tem muita fé e confiança nesse espírito de luz que é Nossa Senhora de Nazaré e esse sentimento passa para a gente. Tem muita gente do mal, sei, mas tem mais gente do bem. Quando vou à igreja fico observando as pessoas, quando elas estão com as mãos viradas à santa é porque estão pegando energia, não é só levantando a mão por acaso. O Círio é algo incomum e emocionante demais.
Amazônia Jornal
0 comentários:
Postar um comentário